CICLO DE CINEMA “Alimentação, Agricultura e Transgénicos”, Setembro e Outubro 2010 – Cadaval, Lourinhã, Torres Vedras

Introdução

A nossa alimentação e o modo de produção dos alimentos alterou-se mais nos últimos 50 anos do que nos 10.000 anos anteriores.
Comer é um direito de todos e aparentemente um acto banal, pois fazemo-lo todos os dias, mas pelo impacto ambiental, social e económico que as nossas opções alimentares e o modo de produção dos alimentos podem causar, estaremos conscientes que comer é acima de tudo um acto político?

Integrado no Iº Forum do Oeste pela Educação e Desenvolvimento Sustentável, actividade da Rede CREIAS-Oeste voltamos com o ciclo de cinema para continuar a reflectir sobre o que se esconde para lá da aparente “eterna Primavera” das prateleiras dos supermercados, as alternativas ao nosso alcance e o papel de todos nós, produtores e consumidores.

Com os convidados para o debate, integrado na IX Festas das Adiafas e Festival Nacional do Vinho Leve (Cadaval), vamos ainda discutir a importância dos produtos regionais, as potencialidades da produção biológica e da gastronomia tradicional para uma alimentação mais saudável e o estímulo da economia.

 

Produtos regionais, produção biológica e gastronomia tradicional em debate

Decorreu no domingo, dia 17 de Outubro, uma conferência e debate que se seguiu à projecção do pequeno documentário “TranXgènia”, num espaço preparado junto ao palco e das tasquinhas, no local da Festa das Adiafas e Festival Nacional do Vinho Leve, da responsabilidade da Câmara Municipal do Cadaval.

Esta actividade insere-se no ciclo de cinema organizado pelo MPI – Movimento Pró-Informação para a Cidadania e Ambiente, que por sua vez está integrado no Iº Fórum do Oeste pela Educação e Desenvolvimento Sustentável.

O Eng.º Fernando Serrador da Certiplanet, na sua intervenção apresentou alguns dados sobre a produção em modo biológico, o modo de produção que mais tem crescido a nível mundial e já representa 5% da Superfície Agrícola Útil na Europa, bem como as normas éticas das empresas certificadoras.

De seguida, a Eng.ª Daniela Geraldes apresentou o projecto 270. Trata-se de um projecto de dinamização de uma horta biológica certificada, em plena área de paisagem protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, com o objectivo de facilitar o escoamento da produção da horta e promover hábitos de vida sustentáveis. Assim, têm realizado inúmeras actividades como, jantares, fins-de-semana para famílias com oficinas práticas (fabrico de pão, fabrico de sabão), tertúlias e debates.

O Engº Víctor Lamberto, representante do Movimento Slow Food, numa animada e divertida intervenção, em ritmo nada “slow”, que contagiou toda a assistência, expôs os objectivos do movimento e o trabalho na defesa dos produtos tradicionais e os seus processos de fabrico artesanais. Muitos destes produtos passaram para a ilegalidade devido às normas europeias desajustadas, e por isso estão na mira da ASAE. Uma estratégia para contornar a situação é a promoção destes produtos em eventos gastronómicos no estrangeiro, para que depois de alcançarem notariedade, possam mais tarde ser de novo aceites.

Outras ideias partilhadas pelo orador foram: a gastronomia dos “pobres” é na verdade a mais “rica”; comer é um acto de cultura em nada inferior ao bailado ou à música; o melhor é o que é natural, que foi testado ao longo do tempo, ao contrário dos alimentos transgénicos, que são uma agressão à sabedoria da Natureza; a importância do tempo, tempo para deixar as coisas crescer, saborear, estar…; a agricultura tem de ser o motor da economia de Portugal; as autarquias locais têm um papel muito importante na promoção dos produtos regionais. O Movimento Slow Food defende o alimento bom (saboroso, nutritivo, fresco, da época), limpo (sem resíduos, sem transgénicos) e justo (local, a preço justo para o produtor).

Finalmente, o Eng.º Costa Pereira, da FENADEGAS, realçou a importância do vinho na gastronomia e na saúde, apresentando o trabalho na promoção de um consumo regrado de vinho, e na sensibilização dos mais jovens para os perigos do consumo irresponsável de bebidas alcoólicas.

Seguiu-se um animado e participado debate em que a importância dos consumidores e dos mercados de proximidade (produtor-consumidor) foram considerados peças-chave para melhorar a produção e a variedade de alimentos, tendo também os agricultores de estar atentos para responder à procura do mercado, concretamente de produtos biológicos. Para os consumidores evitarem o consumo de transgénicos a melhor forma é privilegiar os alimentos biológicos (em especial os de origem animal, uma vez que o principal mercado dos transgénicos são as rações para animais) e rejeitar os alimentos processados industrialmente, uma vez que a rotulagem que obriga à informação dos ingredientes transgénicos deixa de fora os aditivos, sendo que na sua maioria são provenientes do milho (exemplo: xarope de glicose-frutose) ou da soja (exemplo: lecitina de soja como emulsionante no chocolate), as principais culturas transgénicas.

A moderadora, Alexandra Azevedo (MPI), encerrou o debate agradecendo a presença de todos, com a promessa de se voltar a abordar estes temas pela necessidade de continuar a partilhar os contributos de todos, mesmo que modestos.

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Sessão no Centro de Educação Ambiental de Torres Vedras

Uma das sessões previstas do Ciclo de Cinema “Alimentação, Agricultura e Transgénicos”, integrado por sua vez no Iº Fórum do Oeste pela Educação e Desenvolvimento Sustentável, decorreu no dia 19 de Outubro, 3ª-feira, pelas 14.30 que consistiu na projecção do documentário “Uma Verdade Mais que Inconveniente” (Meat the Truth) seguida de debate por Alexandra Azevedo do MPI.

Estiveram presentes vários professores de vários níveis de ensino e uma turma do 12º ano e ainda algumas pessoas interessadas.

De salientar o debate muito participado que permitiu aprofundar o tema central do documentário, o excessivo consumo de carne e consequente impacto da pecuária intensiva ao nível das alterações climáticas, desflorestação, perda de biodiversidade, poluição da água pelos efluentes, e ainda explorar outros assuntos não focados no filme.

Foi possível esclarecer e partilhar várias formas para conseguir uma alimentação mais saudável sem gastar necessariamente mais dinheiro fugindo à fast food, como por exemplo, adquirir produtos biológicos directamente de produtores e consumir alimentos silvestres (gratuitos e disponíveis todo o ano!).

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